segunda-feira, 29 de outubro de 2012

O AB DE OLHO NO ENEM: Jorge Amado e nossos “Capitães da Areia “




O centenário do escritor Jorge Leal Amado de Faria (1912-2001é comemorado em 2012. Além disso, por ser modernista, retratar a diversidade das problemáticas brasileiras, é possível que sua vasta e rica obra seja tema do ENEM. Diante da diversidade de suas produções, a indicação vai para Capitães da Areia, livro que aborda a dimensão social e política dos meninos e meninas “de rua” (década de 30). Assim, a contextualização da problemática referente aos meninos e meninas “de rua” e suas implicações teóricas, sociais e políticas poderá ser um aspecto contemplado.
No debate atual, será possível uma reflexão sobre a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 171/93, que reduz a maioridade penal de 18 para 16 anos.

Dica da disciplina de Sociologia – Profa. Marilene Banhos

Leitura e Cidadania

ATA DE INCINERAÇÃO
Aos dezenove dias do mês de novembro de 1937, em frente à Escola de Aprendizes Marinheiros, nesta cidade do Salvador e em presença dos senhores membros da comissão de buscas e apreensões de livros, nomeada por ofício número seis, da então Comissão Executora do Estado de Guerra, composta dos senhores capitão do Exército Luís Liguori Teixeira, segundo-tenente intendente naval Hélcio Auler e Carlos Leal de Sá Pereira, da Polícia do Estado, foram incinerados, por determinação verbal do sr. coronel Antônio Fernandes Dantas, comandante da Sexta Região Militar, os livros apreendidos e julgados como simpatizantes do credo comunista, a saber: 808 exemplares de Capitães da areia, 223 exemplares de Mar morto, 89 exemplares de Cacau, 93 exemplares de Suor, 267 exemplares de Jubiabá, 214 exemplares de País do carnaval, 15 exemplares de Doidinho, 26 exemplares de Pureza, 13 exemplares de Bangüê, 4 exemplares de Moleque Ricardo, 14 exemplares de Menino de Engenho, 23 exemplares de Educação para a democracia, 6 exemplares de Ídolos tombados, 2 exemplares de Idéias, homens e fatos, 25 exemplares de Dr. Geraldo, 4 exemplares de Nacional socialismo germano, 1 exemplar de Miséria através da polícia.
Tendo a referida ordem verbal sido transmitida a esta Comissão pelo sr. Capitão de Corveta Garcia D'Ávila Pires de Carvalho e Albuquerque e a incineração sido assistida pelo referido oficial, assim se declara para os devidos fins.
Os livros incinerados foram apreendidos nas livrarias Editora Baiana, Catilina e Souza e se achavam em perfeito estado.
Por nada mais haver, lavra-se o presente termo, que vai por todos os membros da Comissão assinado, e, por mim segundo tenente intendente naval Hélcio Auler, que, servindo de escrivão, datilografei. (assinados)
Luís Liguori Teixeira, Cap. Presidente
Hélcio Auler, Segundo-Tenente Int. N.
Carlos Leal de Souza Pereira
Transcrito do jornal Estado da Bahia, de 17-12-37

Há pouco mais de 60 anos, surgia na literatura brasileira um livro marcado pelo estigma da incineração pública. Censurado e perseguido no momento de seu lançamento, Capitães da areia, de Jorge Amado, aparece às vésperas da decretação do Estado Novo, em 10 de novembro de 1937. (...)
(...) Capitães da areia. O romance dos meninos de rua recupera o ímpeto romanesco e heroificador dos humildes adotado desde Cacau. Os pequenos bandidos chefiados por Pedro Bala surgem acima de tudo como vítimas de uma sociedade opressora e hipócrita. A violência que praticam é inscrita no texto quase sempre como justa e, mesmo, necessária - uma resposta à violência econômica sofrida pelos de baixo e transformada em agressão sádica quando praticada pelo aparelho repressivo. O romance toma o partido dos, já àquela altura, considerados menores, mas para fazê-los maiores. Eles se engrandecem no drama do Sem Pernas, que prefere o suicídio ao reformatório; no arrependimento culpado de Pedro Bala, quando se coloca no lugar de sua vítima; e, como não poderia deixar de ser, no momento em que o grupo retifica sua prática e avança rumo às lutas sindicais e políticas. (...)
Apesar da elevação e, mesmo, da heroificação - próprias ao modo romanesco - com que trabalha a representação dos pequenos bandidos, o texto amadiano não deixa de tratá-los como problema. Os meninos crescem, mas o problema do qual fazem parte persiste. A desigualdade que gera os menores infratores é a mesma que produz o cangaceiro (Volta Seca) e o marginal urbano (Gato); é a mesma que propicia o surgimento do artista engajado (Professor) e do ativista político (Pedro Bala). Ao final, os meninos tomam corpo de adultos, mas continua a tensão que os opõe ao mundo e que exige deles novas armas. Amado faz da desigualdade não apenas o núcleo, a enervação central do romance. Ao mimetizá-la, quer falar a história do outro, a história a contrapelo, centrada nas vozes subalternizadas. E, ao trazer essas vozes para o centro do projeto socialista que embala seus primeiros escritos, quer construir, pela via literária, a solução. Apontando aos marginais o caminho da luta de classes, em pleno alvorecer do Estado Novo, Jorge Amado ostentava, provocativamente, o lado subversivo da utopia. (...)
Os meninos passaram de "dominados" a "excluídos" (...)
Eduardo de Assis Duarte - Professor da Faculdade de Letras da UFMG, doutor em Teoria da Literatura e Literatura Comparada pela USP.


“Capitães da Areia”, a narrativa pela ótica de meninos de rua
Não há violência maior do que o abandono. E é justamente essa violência que Jorge Amado explora e coloca sob a ótica da vítima em “Capitães da Areia”. Na obra, de 1937, os heróis são os meninos de rua. “Pela primeira vez na literatura brasileira, o menor abandonado é o centro da história. Hoje ele é motivo de preocupação, mas há 73 anos era confundido com deliquente e a discriminação era grande”, afirma Eduardo de Assis Duarte, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pesquisador da obra de Jorge Amado.
Duarte destaca que “Capitães da Areia” não tem grande importância estética, formal, e sim política. “Jorge Amado usa a forma de romance tradicional, ele se apega à herança romântica do século 19. Não é um livro de vanguarda modernista. A importância da obra é de natureza política. Trata-se de um livro politicamente revolucionário para a época”, afirma o professor e autor da tese de doutorado “Jorge Amado: Romance em tempo de utopia”.
“Capitães da Areia” foi censurado, e Jorge Amado preso pela polícia do Estado Novo (1937-45), regime de exceção instituído por Getúlio Vargas que limitava a liberdade política. Mais de mil exemplares de livros foram queimados em uma grande fogueira em praça pública em Salvador.
“Na época, o livro foi um escândalo. Além da questão do erotismo, o ponto de vista das crianças ladras não era aceito. Jorge tem um olhar humano e as transforma em figuras humanas e não em monstros. O autor não defende o roubo, mas ele mostra porque as crianças agem assim. Elas roubam porque têm fome, porque não têm pai e mãe”, elenca Duarte.
Por Marina Morena Costa, iG São Paulo
Texto na íntegra em:

Relator: redução da maioridade penal fere princípio constitucional
O deputado Luiz Couto (PT-PB) afirmou nesta quarta-feira (6), em bate-papo com internautas realizado pela Agência Câmara, que a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 171/93, que reduz a maioridade penal de 18 para 16 anos, contraria artigo da Constituição que não pode ser alterado (cláusula pétrea), além de desrespeitar o Pacto de São José da Costa Rica, do qual o Brasil é signatário. Segundo esse tratado, os adolescentes devem ser processados separadamente dos adultos.
“A redução da maioridade penal fere o artigo 60, parágrafo 4º, inciso 4º da Constituição. Contraria diretamente o princípio da dignidade da pessoa humana”, defendeu Couto, que é relator na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da PEC171/93 e de outras 29 PECs apensadas  a ela que autorizam o julgamento de adolescentes como adultos.
De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), ressaltou ainda o deputado, os adolescentes vivem uma fase especial do desenvolvimento humano e por isso o Estado tem o dever de lhes assegurar proteção integral. Para ele, reduzir a maioridade penal seria o mesmo que jogar os jovens em conflito com a lei no deteriorado sistema prisional brasileiro, considerado por muitos com uma “universidade do crime”. (...)
Perguntado sobre a falta de qualidade dos locais onde os adolescentes cumprem medidas socioeducativas, o deputado afirmou que eles ainda precisam aumentar em quantidade e qualidade. “A violência vinda de adolescentes existe, mas é preciso aumentar o número de instituições que de fato os recuperem. Não podemos simplesmente colocá-los em centros que são verdadeiras cadeias, que transformam os jovens em bandidos muito mais perigosos”, argumentou.
Couto disse que a família também deve se responsabilizar por uma criação que leve a criança a valorizar uma cultura de paz. “É preciso que a família, a comunidade, a sociedade em geral e o Poder Público assegurem proteção e socorro em quaisquer circunstâncias. Se temos adolescentes em conflito com a lei, a culpa não é só do Estado, ela é de todos nós. A sociedade também precisa se mobilizar”, sustentou o relator.

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